Sunday, December 05, 2004

TUDO É SONHO

“Tudo isto é sonho e fantasmagoria, e pouco vale que o sonho seja lançamentos como prosa de bom porte. Que serve sonhar com princesas, mais que sonhar com a porta da entrada do escritório? Tudo que sabemos é uma impressão nossa, e tudo que somos é uma impressão alheia, melodrama de nós, que, sentindo-nos, nos constituímos nossos próprios espectadores activos, nossos deuses por licença da Câmara.”
F.P.

Coisas de nada íntimas a servir de mesa para o repouso do gesto incerto...

Tu não eras quem o sonho dizia nem foste depois o que prometias.

Ficaste entre os muros de tudo o que te aprisionava e as dúvidas que te afastaram de mim, a real família e os servos que te cantavam glorias de que tu não prescendias...
A forma como eras, disseste, rainha entre as concubinas na Corte de Almeriem–Mir

Entre tanta mulheres eras só mais uma que passava endelével na minha vida ou na paisagem agreste de uma deserto onde a tenda se erguia no meio de tempestades que uivavam e quando o negro teu escravo vinha e confessava que me traias... com outra concubina... e eu apenas ria...

Bebia vinho ácido e fumava ervas negras para afastar os espírítos que me atormantavam na tua ausência e escrevia versos trocados...tudo em mim se confundia e
ficava a olhar para as minhas serpentes para me treinar quando tu viesses mais uma vez com o teu veneno morder-me as entranhas e ria-me...
ria-me para dentro desta memória tão antiga que paira no meu espírito como uma fantasmagoria.

No comments: