Tuesday, July 25, 2006

O CÁLICE E A ESPADA

"Em Creta, pela derradeira vez na história registada, parece ter prevalecido um espírito de harmonia entre mulheres e homens, como participantes joviais e iguais na vida. É este espírito que parece iluminar a tradição artística de Creta, uma tradição que, ainda nas palavras de Platon, é única no seu "prazer da beleza, da graça e do movimento" e na sua "fruição da vida e proximidade da natureza".

de RIANE EISLER




Consagradas a la Diosa del Hogar, Vesta, estas sacerdotisas pertenecientes a una clase social libre, accedían a su labor a la temprana edad de entre seis y diez años. Ataviadas con una túnica blanca las seis vestales debían mantener encendido perennemente el fuego del templo ya que simboliza el destino del Imperio Romano.

AS SACERDOTISAS DE ASTARTEIA

As sacerdotisas de Astarteia amam-se ao erguer da lua;
depois se levantam e vão banhar-se, num pequeno lago de prata bordejado.

Com seus dedos recurvos penteiam os cabelos
e as suas mãos, tintas de púrpura, assim juntas a seus cachos negros
parecem ramos de coral num mar flutuante e sombrio.

Nunca arrancam os pelos, para que o triângulo da deusa
lhes assinale o ventre como um templo;
mas tingem-se com pincéis e profundamente se perfumam.

As sacerdotisas de Astarteia amam-se ao cair da lua;
e depois, em salas atapetadas onde no alto uma lâmpada de ouro brilha,
fortuitamente se retiram e vão dormir.


in AS CANÇÕES DE BILITIS de Pierre Louys

Thursday, July 20, 2006

Noturno

Espírito que passas, quando o vento

Adormece no mar e surge a Lua,

Filho esquivo da noite que flutua,

Tu só entendes bem o meu tormento...



Como um canto longínquo - triste e lento-

Que voga e sutilmente se insinua,

Sobre o meu coração que tumultua,

Tu vestes pouco a pouco o esquecimento...



A ti confio o sonho em que me leva

Um instinto de luz, rompendo a treva,

Buscando. entre visões, o eterno Bem.



E tu entendes o meu mal sem nome,

A febre de Ideal, que me consome,

Tu só, Gênio da Noite, e mais ninguém!




antero de quental

Intimidade

Antero de Quental







Quando, sorrindo, vais passando, e toda

Essa gente te mira cobicosa,

Es bela - e se te nao comparo a rosa,

E que a rosa, bem ves, passou de moda...





Anda-me as vezes a cabeca a roda,

Atras de ti tambem, flor caprichosa!

Nem pode haver, na multidao ruidosa,

Coisa mais linda, mais absurda e doida.





Mas e na intimidade e no segredo,

Quando tu coras e sorris a medo,

Que me apraz ver-te e que te adoro, flor!





E nao te quero nunca tanto (ouve isto)

Como quando por ti, por mim, por Cristo, Juras

- mentindo - que me tens amor...

Saturday, July 15, 2006

Da poesia maldita...




"Minha adorada bela como tudo na terra e nas mais belas estrelas da terra que eu adoro minha mulher adorada por todos os poderes das estrelas bela com a beleza dos biliões de rainhas que adornam a terra a adoração que tenho pela tua beleza põe-me de joelhos para te suplicar que penses em mim ponho-me aos teus joelhos adoro a tua beleza pensa em mim minha beleza adorável minha enorme beleza que adoro faço rolar os diamantes no musgo mais alto que as florestas de que os teus cabelos mais altos pensam em mim (...) olho para ti na minha mão que me serve para me firmar por aquilo que sou minha mulher morena-loura minha bela minha louca pensa em mim nos paraísos com a cabeça nas minhas mãos. Eu não estava cansado dos cento e cinquenta castelos onde nos iamos amar irão construir-me amanhã outros cem mil cacei das florestas de baobás de teus ollhos os pavões as panteras e as aves-liras eu os encerrei nos meus castelos da Ásia da Europa da África da América que rodeiam os nossos castelos nas florestas admiráveis dos teus olhos que estão habituados ao meu esplendor."(...)

in A IMACULADA CONCEPÇÃO
em "tentativa de simulação da paralesia geral"
de breton e paul eluard

O meu gato...



o gato enroscou-se ao sol
na soleira da porta
como um deus que dorme
indiferente
ao mundo
e ao sofrimento dos homens:

um deus
que se renova
a cada som inexistente

mais tarde o vento
passeando pelo gato
(ou deus )
que se espreguiça ao sol

trouxe-me sem eu saber
uma folha verde
que foi nascer no chão

nasceu
como o que agora escrevo
que sempre esteve lá
sendo inexistente

talvez para mostrar
que deus e o gato
estão em toda a parte

e que toda o Poema é queda



sophia de carvalho
(heterónimo de maat)

Friday, July 07, 2006

"É uma vida de violência mágica. "

QUANDO AQUI NÃO VENHO É PORQUE ESTOU LONGE
OU ESQUECIDA DO DESTINO ÚNICO DO MEU CORAÇÃO...
É PORQUE...

"E eu vivo de lado - lugar onde a luz central não me cresta. E falo bem baixo para que os ouvidos sejam obrigados a ficar atentos e a me ouvir.

Mas conheço também outra vida ainda. Conheço e quero-a e devoro-a truculentamente. É uma vida de violência mágica. É misteriosa e enfeitiçante. Gotas de água enlançam enquanto as estrelas tremem. Gotas de água pingam na obsuridade fosforecente da gruta. Nesse escuro as flores se entrelaçam em um jardim feérico e humido. Sinto-me derrotada pela minha própria corruptibilidade.

E vejo que sou intrinsecamente má. É apenas por pura bondade que sou boa. Derrotada por mim mesma. Que me levo aos caminhos da salamandra, génio que governa o fogo e nele vive. E dou-me como oferenda aos mortos. Faço encantações no solstício, espectro de dragão exorcizado."


Clarice lispector

FLOR DE LOTUS



No dia em que a flor de lótus desabrochou
A minha mente vagava, e eu não a percebi.
Minha cesta estava vazia e a flor ficou esquecida.
Somente agora e novamente, uma tristeza caiu sobre mim.
Acordei do meu sonho sentindo o doce rastro
De um perfume no vento sul.
Essa vaga doçura fez o meu coração doer de saudade.
Pareceu-me ser o sopro ardente no verão, procurando completar-se.
Eu não sabia então que a flor estava tão perto de mim
Que ela era minha, e que essa perfeita doçura
Tinha desabrochado no fundo do meu coração.
Verdades
Roubo do hoje a força
Fazendo nascer o amanhã.
Da janela acompanho com olhar
As nuvens do céu.
De novo a sombra sinistra
Tolda tristemente meus sonhos.
Tua imagem me acompanha
Por todos os lugares por onde ando.
E em todos os momentos
É a tua presença que espanta
As brumas do desconhecido.
Não faço perguntas.
Tenho medo das respostas que já sei.
Liberta do invólucro físico
Devolverei a matéria ao pó de que fora feito.
Vivi meus três caminhos na terra.
Purgatório. Inferno. Céu.
Tudo de acordo com meus projetos,
Minhas atitudes,
Procurando não cair nos mesmos erros.
Agora — vago e espero
Entre tropeços e flagelos
O ressurgir da verdade.


SE NÃO FALAS

Se não falas, vou encher o meu coração
Com o teu silêncio, e aguentá-lo.
Ficarei quieto, esperando, como a noite
Em sua vigília estrelada,
Com a cabeça pacientemente inclinada.
A manhã certamente virá,
A escuridão se dissipará, e a tua voz
Se derramará em torrentes douradas por todo o céu.
Então as tuas palavras voarão
Em canções de cada ninho dos meus pássaros,
E as tuas melodias brotarão
Em flores por todos os recantos da minha floresta.

Tagore