Sunday, April 24, 2016

A ROSA DUBIA



ABANDONO


És o abandono límpido e sobre ti me inclino,
porque o amor é uma inflorescência indizível,
sobre galáxias de alfazema....
Perscruto-te numa errância obscura;
e procuro todas as metáforas em que te possa
transformar,
mas apenas as linhas se insinuam
e as sombras espalham-se na tua avidez porosa.
O vento é a tua imagem e o ar, com a sua cabeleira
volúvel, fascina-me,
tal como o teu rosto de olhos insones,
perdido entre a lua, o sol e a terra,
em seu pulsar vigoroso.
Afasto a neblina inerte e perco-me em ti,
porque os teus olhos são tâmaras azuis,
labirintos de música,
e o mar é uma explosão exótica que vibra,
galgado o corpo e as suas margens.
A totalidade é a chave que te inventa.
És a Primavera de espaços sucessivos, a rosa dúbia,
a sombra incandescente desses lugares
que emergem,
íris e caos, pedra volúvel, navio versátil.
Na vertigem exímia, perco-me nas tuas torrentes
de magma.
No teu rosto salgado, encontro o laço da volúpia,
o corpo das brisas, as poalhas de veludo,
as algas movediças
e um terror subterrâneo, fonte intranquila,
colmeia dulcíssima, vaga flutuando
num vazio errante de céu e nenúfares.

Thursday, April 21, 2016



Coreografia

No palco da noite bailado de corpos
Cenário de sombras...
esculpidas em nu

Tu danças as mãos
inscreves contornos
na minha nudez
Eu sou dimensão
que dança em teu espaço
Não temos cansaço
Só temos volúpia
Desejo
Harmonia
Vontade de luta
Ao longo de ti descubro caminhos. Trajecto de boca
E danço contigo
E esqueço a memória
Eu sou o teu sangue
A mesma saliva
O mesmo suor
Nós somos a mesma
Mulher-Repetida.

Manuela Amaral

Friday, April 08, 2016




Beijo o degrau e o espaço. O meu desejo traz
o perfume da tua noite.
Murmuro os teus cabelos e o teu ventre, ó mais nua
e branca das mulheres. Correm em mim o lacre
e a cânfora, descubro tuas mãos, ergue-se tua boca
ao círculo de meu ardente pensamento.
Onde está o mar? Aves bêbedas e puras que voam
sobre o teu sorriso imenso.
Em cada espasmo eu morrerei contigo


fragmento de poema
Herberto helder