Sunday, April 24, 2016

A ROSA DUBIA



ABANDONO


És o abandono límpido e sobre ti me inclino,
porque o amor é uma inflorescência indizível,
sobre galáxias de alfazema....
Perscruto-te numa errância obscura;
e procuro todas as metáforas em que te possa
transformar,
mas apenas as linhas se insinuam
e as sombras espalham-se na tua avidez porosa.
O vento é a tua imagem e o ar, com a sua cabeleira
volúvel, fascina-me,
tal como o teu rosto de olhos insones,
perdido entre a lua, o sol e a terra,
em seu pulsar vigoroso.
Afasto a neblina inerte e perco-me em ti,
porque os teus olhos são tâmaras azuis,
labirintos de música,
e o mar é uma explosão exótica que vibra,
galgado o corpo e as suas margens.
A totalidade é a chave que te inventa.
És a Primavera de espaços sucessivos, a rosa dúbia,
a sombra incandescente desses lugares
que emergem,
íris e caos, pedra volúvel, navio versátil.
Na vertigem exímia, perco-me nas tuas torrentes
de magma.
No teu rosto salgado, encontro o laço da volúpia,
o corpo das brisas, as poalhas de veludo,
as algas movediças
e um terror subterrâneo, fonte intranquila,
colmeia dulcíssima, vaga flutuando
num vazio errante de céu e nenúfares.

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