Sunday, February 20, 2005

Era outra luz, era outra suavidade

A poesia que se acerca da oração é superior não só à oração mas também à própria poesia.

E. CIORAN


Num sonho todo feito de incerteza,
De nocturna e indizível ansiedade,
É que eu vi teu olhar de piedade
E (mais que piedade) de tristeza…

Não era o vulgar brilho da beleza,
Nem o ardor banal da mocidade…
Era outra luz, era outra suavidade,
Que até nem sei se as há na natureza…

Um místico sofrer…uma ventura
Feita só de perdão, só da ternura
E da paz da nossa hora derradeira…

Ó visão, visão triste e piedosa!
Fita-me assim calada, assim chorosa…
E deixa-me sonhar a vida inteira!


ANTERO DE QUENTAL in “Sonetos”

No comments: