Monday, February 28, 2005

O RISO E O CHORO

(...)

Sendo a condição humana dramática, o seu destino e a sua existência embebidos em dor, o Ser lúcido que possua em alto grau a força de pensar e de sentir, estará mais naturalmente inclinado à tristeza do que ao riso. Assim a tragédia, produto natural de um pensamento-vivência, premente de angústia e de tristeza é, apesar disso, dinamizante na medida em que estimula um progresso. Colocando o ser perante um destino que parece inexorável, aponta-lhe paradoxalmente os caminhos de esperança da transcendência


ANA HATHERLY

"Eles tomam, sonhando, nobres atitudes.
Grandes esfínges alongadas no fundo das solidões
que parecem dormir um sono sem fim."


BAUDELAIRE


OS Gatos são a nossa paixão abençoada
pela alma que põem no que são e no que sabem,
pela ternura que guardam no que escondem.
São os gatos de Baudelaire, de Eliot e Paul Klee,
os da rua, do oriente ou do universo,
os gatos gémeos das estrelas e das mariposas,
os gatos que se perdem entre as açucenas,
os guardiões da alquimia do não dito.
Pela boca dos gatos diz-se a liberdade
de quem se dá só a quem ama.
Perfil bordado sobre os panos de luar.

(...)

JOSÉ JORGE LETRIA

Sunday, February 27, 2005

O lótus na rosa



(...)
As mãos cingindo o perfume da rosa abrindo em lótus
- tarde de muros -
No teu porte de abandono!


Tília Ramos

"NO LADO ESQUERDO DA ALMA"

Nossa Senhora de Paris

Listas de som avançam para mim a fustigar-me
Em luz.
Todo a vibrar, quero fugir...Onde açoitar-me?
Os braços duma cruz.
Anseiam-me, e eu fujo também do luar...

Um cheiro a maresia
Vem-me refrescar,
Longínqua melodia
Toda saudosa do Mar...
Mirtos e tamarindos
Odoram a lonjura;
Resvalam sonhos lindos...
Mas o Oiro não perdura
E a noite cresce agora a desabar catedrais...

Fico supulto sob círios,
Escureço-me em delírios
Mas ressurjo de ideais...

- Os meus sentidos a escoarem-se...
Altares e velas...
Orgulho ...Estrelas...
Vitrais! Vitrais!

Flores de Lis...

Manchas de cor a ogivarem-se...
as grandes naves e sangrarem-se...
- Nossa Senhora de Paris!...


Paris, Junho de 1913
MÁRIO SE SÁ-CARNEIRO

Saturday, February 26, 2005

Surge dos lados do oriente a luz loura do luar de outro. O rastro que faz no rio largo abre serpentes no mar.

O LIVRO DO DESASSOSSEGO
fernando pessoa



MUSA

Aqui me sentei quieta
Com as mãos sobre os joelhos
Quieta muda secreta
Passiva como os espelhos
Musa ensina-me o canto
Imanente e latente
Eu quero ouvir devagar
O teu subito falar
Que me foge de repente


Sofia de M. B.

INTERNO, INTERIOR, ÍNTIMO

Enquanto o ouroboros continuar dormindo em nós seremos sempre corpos de uma outra cabeça.
De cada vez que uma só gota do teu íntimo se escape verás que ela se condensa e de tal modo se adensa que entre ti e aquele que entreviu apenas só cílio do teu íntimo se erguerá uma grade, uma barreira, uma lança.

E essa lança é a ti próprio que fere.

O íntimo é aquela substância, lagarta em permanente metamorfose de que tu és apenas o invólucro, a segregação visível da glândula ìntimo e as tuas metamorfoses aão as tuas.
(...)

ANA HATHERLY - Sigma

Thursday, February 24, 2005

Não me amaste, disso eu sei.



EU NA MINHA SOLIDÃO...

"Mas como fazer se não te enterneces com meus defeitos, enquanto eu amei os teus. Minha candura foi por ti pisada. Não me amaste, disso eu sei. Estive só. Só de ti. Escrevo para ninguém e está-se fazendo um improviso que não existe.
Descolei-me de mim.
(...)
Sinta-se bem. Eu na minha solidão quase vou explodir. Morrer deve ser uma explosão interna. O corpo não aguenta mais ser corpo. E se morrer tiver o gosto da comida quando se está com fome? E se morrer for um prazer, egoísta prazer?"


in ÁGUA VIVA - CLARICE LISPECTOR

A TUA VOZ FALA AMOROSA

Qual é a tarde por achar
Em que teremos todos razão
E respiraremos o bom ar
Da alameda sendo verão,

Ou, sendo inverno, baste 'star
Ao pé do sossego ou do fogão?
Qual é a tarde por voltar?
Essa tarde houve, e agora não.

Qual é a mão cariciosa
Que há de ser enfermeira minha —
Sem doenças minha vida ousa —
Oh, essa mão é morta e osso ...
Só a lembrança me acarinha
O coração com que não posso


FERNANDO PESSOA

Wednesday, February 23, 2005

Ah, pudesses tu dormir
no peito da mais terna amiga...


SAFO


"Só Se Possuem Eternamente
os Amigos de Quem Nos Separamos"


"O amor de alguém é um presente tão inesperado e tão pouco merecido que devemos espantar-nos que não no-lo retirem mais cedo. Não estou inquieto por aqueles que ainda não conheces, ao encontro de quem vais e que porventura te esperam: aquele que eles vão conhecer será diferente daquele que eu julguei conhecer e creio amar. Não se possui ninguém (mesmo os que pecam não o conseguem) e, sendo a arte a única forma de posse verdadeira, o que importa é recriar um ser e não prendê-lo."

MARGUERITE YOURCENAR

Monday, February 21, 2005

ELA CAMINHA NA BELEZA



Ela caminha na beleza como a noite
De climas sem nuvéns e noites estreladas.
E tudo o que há de melhor no escuro e no brilhante
Encontra-se na sua imagem e nos seus olhos

Macia à luz suave
No qual o céu nega ao seu dia luminoso

L.B.


"O QUE DEVEMOS É SALTAR NA BRUMA,
CORRER NO AZUL À BUSCA DE BELEZA"


Mário Sá-Carneiro

A minha alma parou...

SALOMÉ

Insónia roxa. A luz a virgular-se em medo,
Luz morta de luar, mais alma do que lua...
Ela dança, ela range. A carne, álcool de nua,
Alastra-se para mim num espasmo de segredo...

Tudo é caprixo ao seu redor, em sombras fátuas...
O aroma endoideceu, upou-se em cor, quebrou...
Tenho frio...Alabastro!...A minha alma parou...
E o seu corpo resvala a projectar estátuas...

Ela chama-se em Íris. Nimba-se a perder-me,
Golfa-me os seios nus, ecoa-me em quebrando...
Timbres, elmos, punhais...A doida quer morrer-me:

Mordora-se a chorar - há sexos no seu pranto...
Ergo-me em som, oscilo, e parto, e vou arder-me
Na boca imperial que humanizou um Santo...


Lisboa, 3 de Novembro de 1913

MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO

Sunday, February 20, 2005

Era outra luz, era outra suavidade

A poesia que se acerca da oração é superior não só à oração mas também à própria poesia.

E. CIORAN


Num sonho todo feito de incerteza,
De nocturna e indizível ansiedade,
É que eu vi teu olhar de piedade
E (mais que piedade) de tristeza…

Não era o vulgar brilho da beleza,
Nem o ardor banal da mocidade…
Era outra luz, era outra suavidade,
Que até nem sei se as há na natureza…

Um místico sofrer…uma ventura
Feita só de perdão, só da ternura
E da paz da nossa hora derradeira…

Ó visão, visão triste e piedosa!
Fita-me assim calada, assim chorosa…
E deixa-me sonhar a vida inteira!


ANTERO DE QUENTAL in “Sonetos”

Friday, February 18, 2005

O SILÊNCIO DOS GATOS

"Os animais foram destinados a acompanhar-vos, a ocupar o espaço para ensinar, mostrar e partilhar o caminho convosco. Eles não são mais do que uma criação biogenética baseada em genes oriundos de muitos sistemas solares e planetas diferentes. Vêm de uma variedade de comunidades extraterrestres e parecem-se com os seus antecessores que são seres com capacidades de percepção sensorial noutros planetas. A sua criação permite que representantes desses sistemas tenham um laço genético com a Terra e, portanto, a possibilidade de espreitar e enviar mensagens para este mundo. Esta faceta da criação não foi realmente nunca compreendida.

Alguns dos animais existentes na Terra são utilizados como transmissores. Os vossos gatos são transmissores directos de informação para uma espécie de consciência que usa os gatos para vos proteger. Em tempos antigos, em muitas culturas no vosso planeta estava em voga ter um leão ou um outro gato de grande dimensão junto à entidade dirigente.

A família do gato representa uma instrumentalização biogenética de uma espécie que se parece convosco, excepto que tem cara de gato. As espécies felinas vieram ao planeta em vagas e trabalharam na América do Sul, México, Egipto e nalgumas culturas insulares. Quando ensinaram a espécie humana ou quando misturaram a sua espécie com os humanos e criaram governantes aqui, especialmente no Egipto, deixaram os gatos para transmitir informação a fim de que os dirigentes pudessem ter contacto directo com a espécie oriunda das estrelas. Assim, recebiam telepaticamente dos gatos orientações preciosas para a tomada de decisões.

Mais recentemente, os gatos eram pertença das bruxas, pois eles representavam elos com outros reinos.


Traduzido e adaptado de
Barbara Marciniak, EARTH, Bear & Co., 1994

(posted by mariana in ordem nascente)

Thursday, February 17, 2005

...mais doce ainda que o canto da lira - Safo




"O olhar dos gatos estabelece um verdadeiro elo telepático que permite mergulharmos magicamente no cosmos numa troca de energia vbratória. O gato é um íman, um fixador do invisível que nos rodeia e que nós nem sempre sabemos reconhecer!"

"GATO QUE ME FITAS COM OLHOS DE VIDA, QUE TENS LÁ NO FUNDO"

Fernando Pessoa

Wednesday, February 16, 2005

Asa no espaço



Asa no espaço, vai, pensamento!
Na noite azul, minha alma flutua!
Quero voar nos braços do vento,
Quero vogar nos braços da Lua!


Vai, minha alma, branco veleiro,
vai sem destino, a bússola tonta...
Por oceanos de nevoeiro
corre o impossível, de ponta a ponta.


Quebra a gaiola, pássaro louco!
Não mais fronteiras, foge de mim,
que a terra é curta, que o mar é pouco,
que tudo é perto, princípio e fim.


Castelos fluídos, jardins de espuma,
ilhas de gelo, névoas, cristais,
palácios de ondas, terras de bruma,
... Asa, mais alto, mais alto, mais!


Fernanda de Castro

Que cada lágrima humana escaldante caia no teu coração e aí fique; nem nunca a tires enquanto durar a dor que a produziu.

H.P.Blavatsky

Tuesday, February 15, 2005

Quanto dói meu coração




Ah, só eu sei

Sem fé nem lei,
sem melodia nem razão.

Só eu, só eu,
E não o posso dizer
Porque sentir é como o céu,
Vê-se mas não há nele nada que ver.


Fernando Pessoa

A ABERTURA DO CAMINHO

"A experiência de um ser não pode transformar outro ser. Aquele que quer realizar a sua Unidade espiritual acima do comum tem de sair do “rebanho”, e enfrentar sozinho o desvendar do seu ser e através de si mesmo, do Universo."


"Não aprendemos senão aquilo que experimentamos na nossa pele e sem que o tenhamos sofrido interiormente.”



I.S.L.

Sunday, February 13, 2005

Assumir a Luz é não fazer nada

“ Assumir a Luz é não fazer nada. É ser capaz de começar por não fazer nada... Precisas de chegar a essa ignorância essencial e ficar quieto, sem projecto, límpido, inocente, transparente, para que o Outro que tu És nos Planos Cósmicos, possa escrever nesse Quadro Branco...”

Seraphys


CANÇÃOZINHA PARA TAGORE

Cecília Meireles

Àquele lado do tempo
onde abre a rosa da aurora,
chegaremos de mãos dadas,
cantando canções de roda
com palavras encantadas.
Para além de hoje e de outrora,
veremos os Reis ocultos
senhores da vida toda,
em cuja etérea Cidade
fomos lágrima e saudade
por seus nomes e seus vultos.

Àquele lado do tempo
onde abre a rosa da aurora
e onde mais do que a ventura
a dor é perfeita e pura,
chegaremos de mãos dadas.

Chegaremos de mãos dadas,
Tagore, ao divino mundo
em que o amor eterno mora
e onde a alma é o sonho profundo
da rosa dentro da aurora.

Chegaremos de mãos dadas
cantando canções de roda.
E então nossa vida toda
será das coisas amadas.

Sunday, February 06, 2005

"A MEDITAÇÃO É AQUELA LUZ QUE, NA MENTE, ILUMINA O CAMINHO DA ACÇÃO; E SEM ESSA LUZ NÃO EXISTE AMOR."

J. Krishnamurti


Aquele que vê todos os seres no seu próprio Eu,
e o seu próprio Eu em todos os seres, esse perde todo o medo.

Quando um sábio vê esta grande Unidade e o seu Eu se tornou todos os seres, que desilusão ou desgosto se lhe poderão jamais aproximar?


OS UPANISHADES

ÁGUA E ROSAS DE ISPAHN


XXL

Canta, meu coração, os jardins que não conheces;
Jardins como que vazados em vidro, claros, inacessíveis.
Água e rosas de Ispahan ou de Xiraz,
canta-os ditosos, louva-os, a nenhum comparáveis.

Mostra, meu coração, que nunca deles te privas.
Que os seus figos a amadurecerem pensam em ti.
Que convives c'os seus ares que entre os seus ramos
em flor se sublimam como em faces.

Evita o erro das privações
para a resolução acontecida: de ser!
Fio de seda, vieste entrar na teia.

A qualquer das imagens que no íntimo venhas unir-te
(seja mesmo um momento da vida da dor),
sente que o que se tem em vista é o tapete, inteiro e glorioso.


RAINER MARIA RILKE