Monday, December 22, 2008

só quem vive







A Abelha que voando
A abelha que, voando, freme sobre
A colorida flor, e pousa, quase
Sem diferença dela
À vista que não olha,
Não mudou desde Cecrops.
Só quem vive
Uma vida com ser que se conhece
Envelhece, distinto
Da espécie de que vive.
Ela é a mesma que outra que não ela.
Só nós — ó tempo, ó alma, ó vida, ó morte!
—Mortalmente compramos
Ter mais vida que a vida.
*
Poemas de Ricardo Reis
(heterônimo de Fernando Pessoa)

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