Monday, October 31, 2005

Dilema do adeus



Quero dizer-te adeus
e não encontro palavra
para dizer-te adeus.

Simplesmente adeus
não traduz o que sinto
por fora e por dentro
ao dizer-te adeus.

Quero dizer-te adeus
e não encontro sentido
para dizer-te adeus.

Certamente adeus
não arranca de mim
a vontade de ficar
para dizer-te um adeus-sem-fim.

Quero dizer-te adeus
e dissolver todas as lembranças
e apagar a esperança
de rever um dia depois do adeus.

Quero dizer-te adeus
e não encontro coragem
para dizer-te adeus.

Quero dizer-te adeus
para que o tempo passe
as rugas e as pedras apareçam
e ainda assim dizer-te adeus.

Quero dizer-te adeus
e não encontro caminho
para dizer-te adeus.

Quero dizer-te adeus
e mansamente sumir na estrada
assim calada, no silêncio profundo
ao dizer-te adeus.

Quero dizer-te adeus
e não encontro o tempo certo
para dizer-te adeus.

Quero dizer-te adeus
na monotonia das palavras vãs,
na agonia da consciência cristã
que só permite dizer-te adeus.

Quero dizer-te adeus
e poder ser a mesma
depois do adeus.

Quero dizer-te adeus
e sair incólume
desse encontro inesperado
e ter a certeza de dizer-te adeus.

Quero dizer-te adeus
e continuar como antes,
antes e depois de dizer-te adeus.

Quero dizer-te adeus
na busca frenética de mil adeuses
na cena erótica de um quarto vazio
para conseguir dizer-te adeus.

Quero dizer-te adeus
tantas e quantas vezes for preciso
pois só assim me conscientizo
de que é preciso dizer-te adeus.

Quero dizer-te adeus
no anoitecer de um dia claro
no afã de um beijo desesperado
e encontrar força para dizer-te adeus.

Quero dizer-te adeus
na transparência das minhas lágrimas
e no mesmo instante afogar-me em mágoas
para poder dizer-te adeus.

Quero dizer-te adeus
na busca do absurdo
do acaso surdo e mudo
daquele encontro que tornou-se adeus.

Quero dizer-te adeus
quantas vezes eu já nem sei
quantas noite eu vaguei
na busca infinita de dizer-te adeus.

Quero dizer-te adeus
pelos motivos que já sabemos
porém não cremos
por isso tão difícil dizer-te adeus.

Quero dizer-te adeus
e interromper este dilema
deixar mudo este poema
e silenciar este adeus.

Quero dizer-te adeus
no afã de um suspiro profundo
no elã de um olhar fecundo
e pronunciar docemente o adeus.

Quero dizer-te adeus
nas entrelinhas de uma poesia obscena,
no jogar pelo chão esta paixa terrena
sair correndo e dizer-te adeus.

Quero dizer-te adeus
como um raio que fulmina,
como uma bebida que alucina,
bruscamente, dizer-te adeus.

Quero dizer-te adeus
e poder cair no esquecimento
pois não pensarei no tormento
quero simplesmente dizer-te adeus.

Quero dizer-te adeus
na rapidez de um trem veloz,
não quero que ouças a minha voz,
quando gritar finalmente,
ADEUS


Angela Schaun

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