Muitas vezes alteramos a Verdade,
mas só para dar a máxima expressão de verdade
á nossa fantasia.
Judith de Teixeira
Predestinada
Sou amargura em recorte
numa sombra diluida...
Vivo tão perto da morte!
Ando tão longe da vida...
Quis vencer a minha sorte,
Mas fui eu que fui vencida!
Ando na vida sem norte,
Já nem sei da minha vida...
Eu sou a alma penada
de outra que foi desgraçada!
—A tara da desventura...
Sou u Castigo fatal
dum negro crime ancestral,
en convulsões de loucura!
A minha amante
Dizem que eu tenho amores contigo!
Deixa-os dizer!…
Eles sabem lá o que há de sublime
Nos meus sonhos de prazer…
De madrugada, logo ao despertar,
Há quem me tenha ouvido gritar
Pelo teu nome…
Dizem —e eu não protesto—
Que seja qual for
o meu aspecto
tu estás
na minha fisionomia
e no meu gesto!
Dizem que eu me embriago toda em cores
Para te esquecer…
E que de noite pelos corredores
Quando vou passando para te ir buscar,
Levo risos de louca, no olhar!
Não entendem dos meus amores contigo—
Não entendem deste luar de beijos…
—Há quem lhe chame a tara perversa,
Dum ser destrambelhado e sensual!
Chamam-te o génio do mal—
O meu castigo…
E eu em sombras alheio-me dispersa…
E ninguém sabe que é de ti que eu vivo…
Que és tu que doiras ainda,
O meu castelo em ruína…
Que fazes da hora má, a hora linda
Dos meus sonhos voluptuosos—
Não faltes aos meus apelos dolorosos
—Adormenta esta dor que me domina!
(Judith Teixeira. Poemas. Lisboa. Edicições Culturais do Subterráneo. 1996.)
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