Thursday, March 09, 2006

ESFINGE

De que sono profundo meu amor me acordas,
quando no fundo dos olhos me olhas
e me dá esta vontade louca de chorar e o teu pescoço beijar?...

Que Deusa me lembras, que ritual me recordas,
que a minha alma estremece de mal se lembrar?

Que sede é esta que percorre o meu sangue
e o meu corpo se parece volatilizar?

Que tem a tua presença , ó enigmática figura,
que me lembras a Esfingie, imponente e fria
e, contudo, de te olhar, percorre-me um frémito.

Como se Hatshepsut em pessoa visse
e tivesse instintivamente que a teus pés me ajoelhar.

Como o neófito, trémulo de respeito, à porta do Templo
nem uma palavra conseguisse balbuciar.




MEMÓRIA

Imagino-te fechada numa cidade de cristal,
num horizonte longínquo de luz
no espaço sideral, onde vives submersa.

Vejo-te de muito longe num mar distante, vindo...
Chamo-te desesperada...Não sei quem és, onde estás,
mas sei que existes e me amas tanto como eu a ti.

Talvez me chames, talvez me esperes,
talvez me queiras dar tudo o que sonhei ou pressenti.
Vejo-te porém de muito longe...
numa câmara ardente, num leito branco de cetim.

Adivinho o teu corpo suave ou translúcido
o teu sorriso doce e profundo, os teus cbelos ondolados,
as tuas mãos aladas que puxam por mim...

Pudesse eu vencer esta distância e lonjura!
Queria tanto estar a teus pés rendida
ser tua escrava e não ser mais nada.

Ah! Quem me dera se éter, volatilizar-me, subir no ar;
ser a a essência que, no espaço infinito te dá alento e forma
ser minha a tua própria vida e eu não ser nada...

in "Mulher Incesto - Sonata e Prelúdio"

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