LXIII
Não sou daquelas que ruminam rancor:
Meu coração é o da criança.
safo
Há algo nas manhãs que não entendo agora
e a um grito de minhas pernas não atendo.
Ainda depois da noite, noite me espia
e sonho dúvidas enormes e imóveis
como a imobilidade das aranhas.
Tão pouco tempo- e tenho de deixar-me
e queria nunca ter de repartir-me.
Começa a raiva da saudade
que inventei vou ter de mim.
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A ÁGUA
A água
se enovela pelas pernas
em fio de vigor espiralado
sobre o ventre e o alto das coxas.
O orgasmo é quem mede forças
sem ter ímpeto contra a água.
Quisera desabar sobre ti
como chuva forte.
As coisas são boas quando destroem
e se deixam destruir.
Só assim eu venho:
eco de profundas grutas,
nada leve
uma irrealidade
estar aqui.
Só sei amar assim
- e é assim que te lavro, deserto.
OLGA SAVARY (n.1933)
1 comment:
Sua harmonia e simplicidade na forma de transcrever "aquilo que lhe vai na alma" obriga, qualquer apreciador de arte, a fazer-lhe uma crítica:
- Parabéns! Deve continuar e, porque não compilar e publicar estes e outros trabalhos?
António Monteiro
http://restauros.blogspot.com/
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